Mais um ano de vida... Quem diria. Mas, ao contrário do que
costumo fazer em todo 1º de setembro, não vou falar aqui do seu nascimento.
Falaremos do meu.
Se eu pudesse escolher um dia para reviver neste momento,
certamente seria aquele 2 de dezembro de 2007. Não estive ao seu lado no longo
período sem conquistas, mas senti naquela tarde nublada o peso de cada um dos
23 anos de angústia pelo qual passou. E assim como em qualquer parto, no
momento em que o apito ecoou no Olímpico veio o anúncio da nova vida: o choro.
Naquele momento você deu a luz aqui dentro a um sentimento
até então desconhecido por mim. Eu sei que não foi fácil, te vi sofrendo as
dores o parto. Ainda carregamos essas marcas, não é mesmo? Porém, foi
caminhando ao seu lado nessa etapa que aprendi a dar meus primeiros passos, de
Caxias a Fortaleza, de Santo André a Brasília. E como não lembrar minhas
primeiras palavras... “Eu nunca vou te abandonar”.
O tempo passou, as vitórias vieram e o orgulho também. Me
sinto privilegiado por dizer que, apesar da história que já havia escrito antes
da minha chegada, vi nesse pouco tempo de vida seus maiores sucessos. Após
conquistar o país em 2011, te promoveram no ano seguinte a representante brasileiro
na América do Sul. Seria essa nossa primeira viagem internacional juntos.
Estaria mentindo se dissesse que o passeio foi perfeito.
Sabemos que o voo para Táchira teve turbulências, que o pouso em Guaiaquil foi
forçado e que a recepção em Buenos Aires não foi das melhores. Na verdade, eu
já não aguentava mais a saudade de casa, e acho que isso tornou a festa de
recepção mais bonita.
Sei que as datas divergem, mas acredito que naquele 4 de
Julho de 2012 atingi minha maioridade. Assim que os convidados argentinos foram
embora, parei para refletir e confesso que me emocionei ao lembrar tudo que
compartilhamos. Sim, compartilhamos, pois egoísmo nunca fez parte do nosso DNA.
Era hora de seguir meu caminho e te deixar livre para cuidar dos meus irmãos
mais novos.
Vez ou outra ligo para saber como você está. Me disseram que
depois da minha partida você adotou alguns filhos no Japão e em outros cantos
outrora desconhecidos. Soube, inclusive, que a família cresceu tanto a ponto de
ser preciso e possível construir a tão sonhada casa própria (eu sei, ainda te
devo essa visita). E não se desespere, seus primogênitos te ajudarão a manter
as parcelas em dia. Quanto a aquele conhecido enjoado que insiste em te
criticar, ignore. De que adianta morar em um bairro nobre, quando seu barraco
está caindo aos pedaços?
Por fim, quero pedir desculpas pelas vezes em que fui
rebelde e neguei minhas origens. Sei que muitas vezes uso um discurso de
imparcialidade ao te julgar, como se fosse possível ignorar o coração que bate
aqui dentro. Balela. Que mal há em gostar tanto de alguém? Errados estão eles
que enchem o peito de hipocrisia para dizer que são órfãos. Eu não. Sou filho
de uma camisa alvinegra e democrática. Neto de operários sonhadores. E irmão de
30 milhões de corinthianos, maloqueiros e sofredores.
Graças a Deus.
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